quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Esdruchulices do meu cotidiano filosófico

Pensar: eis a questão. Questão essa que nos atormenta desde, desde quando? desde que o homem aprendeu a pensar! (óbvio ¬¬')
Pensar no ônibus: eis a segunda questão (?). Questão esta que também atormenta o homem desde que, desde quando? Desde de que os ônibus foram inventados. (óbvio também ¬¬')

Íncrivel o que um ônibus é capaz de fazer com a cabeçinha da pessoa aqui. Tem gente que perde a parada porque dorme, eu perco a parada porque penso, isto é, fico tão centrado em certas coisas quando estou dentro de um ônibus que me desligo de tudo. E o que acontece pode ser dividido em três compulsões:
*Escutar conversas alheias (vício antigo, pricipalmente as de senhoras de idade, adoro!).
*Lembranças da infância e pré-adolescência (impóssível para mim ficar alheio a elas e não começar a rir sozinho).
Grandes poderes trazem grandes responsabilidades. Yep! esta é do post sobre o homem-aranha (aguardem)
*Pensamentos esdrúchulos, muito esdrúchulos (dispensa observações)

E é sobre este último que venho hj falar aqui no blog. (!) Um deles pelo menos.

...

"Sou gay!" - pensei assim que entrei no ônibus... Ok, até aí nenhuma novidade. O mundo inteiro sabe que sou gay (seria inumano conseguir esconder este fato com tanto assédio que sofro por parte da mídia).
Sei disso já tem mais de dezenove anos (ia dizer "quase vinte", mas dae me senti mto velho), sempre achei a coisa mais normal do mundo, até ontem. Ontem, pela primeira vez na vida era como se eu simplesmente não tivesse me acostumado com o fato de eu ser gay. É como você acordar de manhã, olhar para si e achar estranho o fato de você possuir dentes, ou cabelos, ou olhos ou etc. São coisas que fazem parte de você desde sempre, estranho estranhar elas. Mas eu estranhei.
Pensei na forma como meus colegas de trabalho se referem aos rapazes homossexuais (ui, que educado!). Eles fazem piada, tiram sarro, avacalham e tudinho mais e não tem a mínima noção de que não só eu, como mais pessoas aqui na empresa (desconfio) são gays. Pensei então em como é estranho para as outras pessoas quando se deparam com um ser-assim (tão gay). Isso é tão estranho para eles como imagino, deve ser para mim quando me deparo com algum muçulmano por exemplo, para aquela pessoa deve ser normal isso, pois ela é assim desde sempre, mas não para mim, porque não faz parte do meu cotidiano ser-assim.
Raiva. Foi o que me veio na cabeça naquele momento. (É que me lembrei que deixei meu chocolate em cima da cama, com certeza aquela altura minha irmã já deveria ter devorado o pobre)
Percebi então o quanto a gente não-se-percebe. A gente repara tanto e tanto nos outros mas não conseguimos olhar para nosso próprio umbigo, muito embora nossos olhos não saiam do próprio. Eu por exemplo poderia ficar o dia todo falando de mim aqui no blog, fácil falar de mim, afinal, eu sou meu assunto preferido. Mas incrível como só percebo essas coisas quando estou dentro de um maldito ônibus! Logo, concluo, falo falo e falo mas ainda nem se quer me conheço...


E então minha parada chegou, dessa vez não à perdi (fato raro). Assim que coloquei o segundo pé para fora do ônibus já estava bem novamente, não que eu estivesse mal, mas me sentia mais uma vez mais gay do que nunca! (sim, porque esse estado piora com o tempo). Como eu disse, os pensamentos são esdrúchulos, não só porque não fazem o menor sentido na maioria das vezes, mas também por serem sempre incompletos, pois assim que saio do ônibus, é como se uma borracha fosse passada na parte do meu cérebro responsável pelo raciocínio, consigo me lembrar de tudo que pensei, mas nada no mundo é capaz de me fazer dar continuidade àquilo, não da maneira estranhamente singular que faço dentro de.
Ônibus, elevador, banho... todos lugares que atiçam a imaginação, estimulam o pensamento, pois neles, estamos sempre acompanhados
(banho?!), mas nos sentimos mais sozinhos do que nunca... talvez seja este o é da coisa... não ficarmos sozinhos, mas ficarmos com nós mesmos. É diferente, pelo menos pra mim...

Porque, como eu sempre digo, nem tudo no mundo precisa ter um sentido. Algumas coisas simplesmente são. E ponto.

3 comentários:

Anônimo disse...

cena: Ma entra no onibus, senta na janela, duas ou tres paradas depois, um cara senta do meu lado, mais algumas paradas e duas crianças de uns 6 anos sentam no banco da frente, acompanhadas da avó que fica em pé. Uma das crianças coloca o braço pra fora da janela do onibus em movimento.
A vó repreende dizendo que o motorista ia surtar com o tal ato da criança.

No pensamento:
- Ah..porque nao falo a verdade? que nao pode por o braço pra fora pq outro onibus pode passar e arrancar o braço fora...
ahh.. eu nao vou fazer isso com meus filhos..nao mesmo! vou? humm.. não!

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PERFEITO O POST!
ameeeeei... tbm tenho disturbios de pensamentos intensos com onibus, elevador, banho o.Ó e etc...


principalmente as etc!!!!

Beijoca e... tome cuidado com a mídia... ela pode estar aqui agora!
Tenho certeza! hahahuah

Anônimo disse...

- : é.

ouvi falar que ônibus e outros que-tais têm o condão de desencadear pensamentos impensados.

no mais, a mídia e seu assédio. cuidado.

no mérito, estranhar-se é um modo, penso, se reconhecimento.

digo: estranha-se, reconhece-se, conforta-se.

todo estranhamento, portanto, é - em certa medida - um desvelar-se de si mesmo.

vai saber.

abraço.

p.s.: belo blog.

(:

Daniel Juliano disse...

Adorei este seu texto, conseguiu captar como ninguuém o que se passa na cabeça do ser durante uma viagem de ônibus, adorei mesmo. Parabéns!