sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Espero

Dizem que não sirvo pra gostar de ninguém.
Que não faço nada que não seja pro meu bem.

Falo coisas de mau gosto, não posso evitar
E há quem mesmo vire o rosto ao me ver chegar

É difícil respirar sem você
Não que eu goste de ser mau
Mas sorrir pra quê?

Espero, espero
Já vai longe o tempo, mas te espero
Um dia pode ser, talvez eu volte a ver
Todas as cores que fugiram junto com você

Eu só digo a quem me pede que eu tenha um bom coração
Que me dê uma razão

É difícil respirar sem você
Não que eu goste de ser mau
Mas sorrir pra quê?

Espero, espero
Já vai longe o tempo


- Espero - Pato Fu -

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Uma Breve História de Esperas

Ab-so-lu-ta-men-te entediado.
Era assim que o jovem se encontrava naquele resto de tarde de sol de um sábado qualquer de dezembro, sentado num banco de uma praça a espera de algo, ou seria alguém?
Mas quem?
Nem ele sabia. Só sabia que viria alguém. Muito embora dessa vez não esperasse por nada. Ele não fazia mais idealizações, desde quando percebeu que sua imaginação era muito maior do que o mundo, muito maior do que as coisas ou as pessoas poderiam ser.
Aparentava ter entre dezessete e vinte anos. Os cabelos eram pretos, a pele branca e as roupas bem justas. Era alto e magro, mas nem tanto. Um jovem atraente.
Estava sentado com as pernas estiradas. Na mão esquerda o relógio, o qual olhava de minuto em minuto. Na mão direita um cigarro, que levava com menos frequencia aos lábios.
Então era assim: um jovem entediado sentado num banco de uma praça numa tarde de sábado fumando e consultando o relógio enquanto esperava por algo, ou alguem - não sabia, pois não esperava por nada. Não mais - repetia para si.
Com ares de arrogânia numa expressão meio blasé, olhava tudo ao redor com extremo desinteresse.
Em seu íntimo talvez penssasse coisas do tipo como será que ele se parece ou será que vai me reconhecer?
Difícil saber. Talvez nem penssasse em nada. Ou penssasse estas coisas clichés tipo como esta calor ou como esta cidade é feia.
Enquanto transpirava debaixo dum sol de 35 graus naquele banco as pessoas iam passando ao seu redor. Algumas rindo e se divertindo, outras um tanto tristes, a maioria extremamente apática... culpa daquela atmosfera de marasmo que tomava conta daquela cidade nos fins de semana. Mas o fato era esse: todos seguiam andando, menos o garoto, que permanecia ali: parado, entediado e esperando.
E na repetição desses movimentos os minutos se passaram.
Estirou-se por completo no banco, os olhos fixos nas árvores, e além das árvores, no céu, azul e limpo. Sua expressão desinteressada agora ganhava ares de quem sonhava. O sorriso nos lábios denunciava-lhe as lembranças. Lembranças boas. Pois era disso que ele era feito: lembranças. Nenhuma promessa de futuro - sempre dizia. Apenas boas e velhas lembranças.

Permaneceu durante mais algum tempo assim: deitado com os olhos fixos no grande vazio que era o céu. Rindo sozinho, perdido em algum ponto de seu passado. Agora já parecia acostumado àquela solidão que era esperar pelo outro.
Finalmente levantou-se. Jogou fora o cigarro. Pisou sobre. Caminhou em direção à biblioteca. Parou. Olhou em volta. Pigarreou. Voltou atrás. Sentou-se novamente e continuou sua rotina de fumar e levar os olhos ao relógio.
De repente o celular toca. Ele olha mas não atende.
Levanta-se novamente. Na mente pairava a dúvida:

- Será que ele não vem?

E na dúvida, resolveu seguir em frente.
Virou-se e saiu andando calmamente, dobrou a esquina e perdeu-se no tempo, deixando ali o que talvez pudesse ser aquilo que mais esperava, muito além do desencontro com o garoto com quem havia marcado. Uma possibilidade de amor.
Assim que desapareceu por entre os prédios, um outro jovem chegou no local. Sentou-se no mesmo banco e deu continuidade à rotina daquele que ainda a pouco se encontrava ali. Cigarros, relógio e tédio: era assim que as coisas aconteciam por ali.
Mas isso não tinha mais importancia alguma, afinal de contas, ele não esperava por mais nada - dizia. E isso já tinha tempo.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

"Rifa-se um coração quase novo. Um coração idealista. Um coração como poucos. Rifa-se um coração que, na realidade, está um pouco usado, meio calejado, muito machucado e que teima em alimentar sonhos e cultivar ilusões. Um coração inconseqüente e precipitado, que diante de um sorriso mais malicioso já está apaixonado. Rifa-se um coração que nunca aprende. Um coração insensato que comanda o racional sendo louco o suficiente para se apaixonar. Um furioso suicida que vive procurando relações e emoções verdadeiras. Rifa-se um coração que insiste em cometer sempre os mesmos erros. Esse coração que erra, briga, se expõe. Perde o juízo por completo em nome de paixões. Sai do sério e, às vezes, revê suas posições arrependido de palavras e gestos. Rifa-se um coração tão inocente que se mostra sem armaduras e deixa louco o seu usuário. Rifa-se um coração, ou mesmo troca-se por outro, que tenha um pouco mais de juízo."

Clarice Lispector

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Somos tão moderninhos

Cena:
Abner entra no ônibus. Senta no seu lugar de quase-sempre e coloca os fones de ouvido. No mpcoisa: Smile Like You Mean it - The Killers... (música viciante aliás)
Quando ônibs chegou na altura do triângulo (só quem mora em são leopodre sabe), junto com a multidão que costuma subir, entram junto um senhor e um menino...
Sentam-se na frente do Abner. E como já era de se esperar, o menino, que devia ter uns tres ou quatro anos se encanta pelo Abner (O aBNER de-tes-ta crianças, mas ela sempre o adoram). Se virou para trás ficou falando coisas que o Abner não ouviu porque estava com os fones e ouvido. Só ouviu quando o pai dele disse assim:
- Te vira pra frente e dexa o moço em paz menino. Criança diz cada coisa...
No que o Abner pensa:
- Merda! Agora nunca vou saber o que ele disse!
Sei que era só uma criança, mas é que crianças são tão verdadeiras... com toda certeza, seja lá o que ele tenha dito, era a mas pura verdade.
O.O
Incrível como uma criança consegue olhar nos olhos de alguém e dizer tudo o que o pensa.
E me indiguino!
Porque eu, no alto dos meus dezenove anos, todo alfabetizado-vacinado-intelectualizado, com tantos pontos de vista sociopolíticos existenciais semi filosóficos e blábláblá... simplesmente não consigo! Não consigo olhar nos olhos de alguém e dizer tudo que penso! Não tudo pelo menos... porque tudo é muita coisa. Muita mesmo.
Pois, como já dizia Caio, somos tão moderninhos... só não somos sinceros.
Penso. Penso. Penso.
Começo a não mais caber dentro de mim - minha alma escorre, transborda, me inunda e meu corpo é pouco.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Loucura-lúcida

Olha em volta baby. O Caos. As coisas não precisam mais fazer sentido. Apenas aceite e viva a vida da maneira que tem que ser vivida. Não pergunte-se como, nem o por quê. Não tente mais entender o motivo, não vá mais-fundo. A vida é curta de mais para tentarmos entender tudo. As coisas não precisam mais ter um significado, embora, sem exceções, todas os tenham. Você sabe que está lá, mesmo não sabendo o que é e isto basta.
E foi assim, meio que batendo com a realidade dele na minha cara que ele me conquistou. E conquistou? Com esse jeito louco e nonsense de encarar a vida. Menos razão, mais sentimento. É assim que foi e é exatamente essa a palavra. Sentimento.
Não que eu tenha achado em qualquer momento que pudesse dar certo. Não, nunca tive essa pretenção. Sempre soube, desde o primeiro instante que àquela história jamais teria um happy-end. Mas o que poderia fazer? Quis voltar, mas era muito tarde.
Ele nunca ligou para a realidade e esse foi talvez o grande problema. Prefiria viver uma realidade inventada, tinha o seu próprio mundo, nonsense, louco, um pouco atrevido até, assim como ele. Realidades opostas embora verdadeiras. A loucura dele refletida em mim e a minha razão refletida nele.
Hoje também sou um pedaço loucura, loucura-lúcida, mas ainda assim loucura. Porque loucura é tudo aquilo que não tem um sentido. E muitos pedaços de mim ainda não me fazem sentido, embora eu saiba que eles existam.
Todos sabemos que a vida é curta. O que devemos ter em mente então é o que fazer com esse curto esapaço de tempo que nos é dado. Eu prefiro dois segundos de verdade do que uma vida de não-saber, porque o não-saber soa como a morte. Porque o não-saber é o que mais me dói. Aos poucos você vai pensando e pensando e isso acaba te comsumindo por inteiro: o pensamento. E é por isso que escolhi ir mais fundo. É por isso que escolhi ser mais eu e menos os outros. Um caçador de porquês então. Sozinho agora, mas absoluto e incompleto, sempre.

Esdruchulices do meu cotidiano filosófico

Pensar: eis a questão. Questão essa que nos atormenta desde, desde quando? desde que o homem aprendeu a pensar! (óbvio ¬¬')
Pensar no ônibus: eis a segunda questão (?). Questão esta que também atormenta o homem desde que, desde quando? Desde de que os ônibus foram inventados. (óbvio também ¬¬')

Íncrivel o que um ônibus é capaz de fazer com a cabeçinha da pessoa aqui. Tem gente que perde a parada porque dorme, eu perco a parada porque penso, isto é, fico tão centrado em certas coisas quando estou dentro de um ônibus que me desligo de tudo. E o que acontece pode ser dividido em três compulsões:
*Escutar conversas alheias (vício antigo, pricipalmente as de senhoras de idade, adoro!).
*Lembranças da infância e pré-adolescência (impóssível para mim ficar alheio a elas e não começar a rir sozinho).
Grandes poderes trazem grandes responsabilidades. Yep! esta é do post sobre o homem-aranha (aguardem)
*Pensamentos esdrúchulos, muito esdrúchulos (dispensa observações)

E é sobre este último que venho hj falar aqui no blog. (!) Um deles pelo menos.

...

"Sou gay!" - pensei assim que entrei no ônibus... Ok, até aí nenhuma novidade. O mundo inteiro sabe que sou gay (seria inumano conseguir esconder este fato com tanto assédio que sofro por parte da mídia).
Sei disso já tem mais de dezenove anos (ia dizer "quase vinte", mas dae me senti mto velho), sempre achei a coisa mais normal do mundo, até ontem. Ontem, pela primeira vez na vida era como se eu simplesmente não tivesse me acostumado com o fato de eu ser gay. É como você acordar de manhã, olhar para si e achar estranho o fato de você possuir dentes, ou cabelos, ou olhos ou etc. São coisas que fazem parte de você desde sempre, estranho estranhar elas. Mas eu estranhei.
Pensei na forma como meus colegas de trabalho se referem aos rapazes homossexuais (ui, que educado!). Eles fazem piada, tiram sarro, avacalham e tudinho mais e não tem a mínima noção de que não só eu, como mais pessoas aqui na empresa (desconfio) são gays. Pensei então em como é estranho para as outras pessoas quando se deparam com um ser-assim (tão gay). Isso é tão estranho para eles como imagino, deve ser para mim quando me deparo com algum muçulmano por exemplo, para aquela pessoa deve ser normal isso, pois ela é assim desde sempre, mas não para mim, porque não faz parte do meu cotidiano ser-assim.
Raiva. Foi o que me veio na cabeça naquele momento. (É que me lembrei que deixei meu chocolate em cima da cama, com certeza aquela altura minha irmã já deveria ter devorado o pobre)
Percebi então o quanto a gente não-se-percebe. A gente repara tanto e tanto nos outros mas não conseguimos olhar para nosso próprio umbigo, muito embora nossos olhos não saiam do próprio. Eu por exemplo poderia ficar o dia todo falando de mim aqui no blog, fácil falar de mim, afinal, eu sou meu assunto preferido. Mas incrível como só percebo essas coisas quando estou dentro de um maldito ônibus! Logo, concluo, falo falo e falo mas ainda nem se quer me conheço...


E então minha parada chegou, dessa vez não à perdi (fato raro). Assim que coloquei o segundo pé para fora do ônibus já estava bem novamente, não que eu estivesse mal, mas me sentia mais uma vez mais gay do que nunca! (sim, porque esse estado piora com o tempo). Como eu disse, os pensamentos são esdrúchulos, não só porque não fazem o menor sentido na maioria das vezes, mas também por serem sempre incompletos, pois assim que saio do ônibus, é como se uma borracha fosse passada na parte do meu cérebro responsável pelo raciocínio, consigo me lembrar de tudo que pensei, mas nada no mundo é capaz de me fazer dar continuidade àquilo, não da maneira estranhamente singular que faço dentro de.
Ônibus, elevador, banho... todos lugares que atiçam a imaginação, estimulam o pensamento, pois neles, estamos sempre acompanhados
(banho?!), mas nos sentimos mais sozinhos do que nunca... talvez seja este o é da coisa... não ficarmos sozinhos, mas ficarmos com nós mesmos. É diferente, pelo menos pra mim...

Porque, como eu sempre digo, nem tudo no mundo precisa ter um sentido. Algumas coisas simplesmente são. E ponto.